(b. 1861 in Florianópolis, Santa Catarina; d. 1898 in Sítio, Minas Geraes)
Afro-Brasilian son of manumitted slaves, taken from his parents and educated by the childless marechal and his wife who had owned his parents and who gave him his surname. Baudelaire-obsessed, profoundly conflicted, world-historical, overwhelmingly magnificent, Supreme Master of Brasilian Symbolism. Only the great Catholic mystic, Alphonsus de Guimaraens, comes close.
Antífona Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Antiphon O Forms pale and white, bright forms of moonlight, snows and mists!... O vague, fluid crystalline forms... Incense from thuribles on sacrificial altars...
Love’s forms, constellately pure, of misty Saints and Virgins... Errant glints, lilies and roses their moist lamentations, their freshness...
Indefinable supreme musics, harmonies of Color and Perfume... Sunset’s Hours, tremulous and extreme, Requiem of the Sun synthesized by Sorrow of the Light...
Visions, serene psalms and canticles, sordines of mournful, sobbing organs, dormancies of voluptuary venoms mild and subtle, morbid and radiant...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios!
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, sodas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rime clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passe
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Dispersed, infinite, ineffable, edenic, ethereal spirits, fecundate the Mystery of these verses with the ideal flame of all mysteries!
Dream’s bluest, burning diaphanes arisen from the Strophe, with the emotions, with all chastities and the very soul of Verse, sing through these lines
That the golden pollen of the finest stars fertilize and inflame the bright and burning rhyme... That incorruptable alabaster gleam forth sonorously, luminously...
Original forces, essence, grace of womanflesh, delicacies... All this effluvium that passes from the Ether in roseate and aureate currents...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios.....
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
Crystals diluted by rapid flashes, desires, vibrations, yearnings, excitations, menacing victories, bitter triumphs, the wierdest infirmations...
Black flowers of tedium and empty flowers of vain, tantalic, morbid loves... Deep reds of old, bloody, open sores running in rivers...
All! alive and nervous and hot and strong, all pass by in Dream’s chimerical whirlpools, singing before the dreadful profile and kaballistic pell-mell of Death...
Cárcere das Almas Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
Prisonhouse Of Souls Ah! Every soul walks imprisoned, sobbing in the dark, watching from between a dungeon’s bars immensities of sea, stars, evenings, nature.
All is cloaked in equal grandeur when the manacled soul dreams of liberty and, dreaming, sunders immortalities in Purity’s ethereal Space.
O imprisoned souls, O mute, O kept shut within the colossal, abandoned cells of Suffering in this atrocious, funereal dungeon!
In these grave, solitary silences, what Heavenly Keeper holds the keys to open for you the doors of Mystery!?
O Assinalado Tu és o Louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.
Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!
The Branded One You are mad with immortal madness, mad with the most supreme madness. The earth is always your black shackle; extreme misadventure binds you within.
But this same shackle of bitterness, but this same misadventure make your supplicant soul bud and sprout in stars of tenderness.
You are the Poet, Branded for greatness, who gradually will people the depopulated world with eternal beauties.
In rich and prodigious Nature all the audacity of the nerves justifies your madman’s immortal spasms!
Satã Capro e revel, com os fabulosos cornos
Na fronte real de rei dos reis vetustos,
Com bizarros e lúbricos contornos,
Ei-lo Satã dentre os Satãs augustos.
Por verdes e por báquicos adornos
Vai c’roado de pâmpanos venustos
O deus pagão dos Vinhos acres, mornos,
Deus triunfador dos triunfadores justos.
Arcangélico e audaz, nos sóis radiantes,
A púrpura das glórias flamejantes,
Alarga as asas de relevos bravos...
O Sonho agita-lhe a imortal cabeça...
E solta aos sóis e estranha e ondeada e espessa
Canta-lhe a juba dos cabelos flavos!
Satan Caprine and rebellious, fabulous horns on the royal brow of a king of age-old kings, here stands Satan in bizarre and wanton contour among august Satans.
With green, Bacchic adorns, with gorgeous grapevines crowned, the pagan god of warm and biting Wines, triumphant God of the justly triumphant.
Archangelic and audacious in blazing sunlight, he opens his wings in savage relievo to the purple of flaming glories...
Dream agitates the immortal head... And, strange and undulant and thick and loose to the suns, the golden yellow mane sings him!
Invulnerável Quando dos carnavais da raça humana
Forem caindo as máscaras grotescas
E as atitudes mais funambulescas
Se desfizerem no feroz Nirvana;
Quando tudo ruir na febre insana,
Nas vertigens bizarras, pitorescas
De um mundo de emoções carnavalescas
Que ri da Fé profunda e soberana,
Vendo passar a lúgubre, funérea
Galeria sinistra da Miséria,
Com as máscaras do rosto descoladas,
Tu que és o deus, o deus invulnerável,
Reseiste a tudo e fica formidável,
No Silêncio das noites estreladas!
Invulnerable When from the carnivals of the human race fall the grotesque masks and the wierdest attitudes come undone in ferocious Nirvana;
When everything falls into insane fever, into bizzare vertiginies picturesque of a world of carnivalesque emotions that laugh at profound and sovereign Faith;
Seeing pass by the lugubrious, funereal gallery of Misery, masks unstuck fromfaces,
You who are the god, the invulnerable god, resist all and remain awesome in the Silence of starry nights.
Escravocratas Oh! trânsfugas do bem que sob o manto régio
Manhosos, agachados -- bem como um crocodilo,
Viveis sensualmente à luz dum privilégio
Na pose bestial dum cágado tranqüilo.
Eu rio-me de vós e cravo-vos as setas
Ardentes do olhar -- formando uma vergasta
Dos raios mil do sol, das iras dos poetas,
E vibro-vos a espinha -- enquanto o grande basta
O basta gigantesco, imenso, extraordinário --
Da branca consciência -- o rútilo sacrário
No tímpano do ouvido -- audaz me não soar.
Eu quero em rude verso altivo adamastórico,
Vermelho, colossal, d’estrépito, gongórico,
Castrar-vos como um touro -- ouvindo-vos urrar!
Slave Owners O! deserters from the good, you who squat cunningly beneath your kingly mantle — like a crocodile, you live in lasciviousness by the light of your privilege in the bestial pose of a tranquil tortoise.
I laugh at you and sink the burning arrows of my gaze into you — fashioning a switch from a thousand sunbeams, from the wrath of the poets, I quake your spines — while the great enough,
The gigantic, immense, awe-inspiring enough — made of clean conscience — the glittering sacrarium on the tympanum of my ear — does not sound audacious in me.
I want my rude, contemptuous verse — my adamastorian, scarlet, colossal, flagellating, gongoric verse to castrate you like steers and oh!, to hear you bellow!
Eterno Sonho Quelle est donc cette femme?
Je ne comprendrai pas. Félix Arvers
Talvez alguém estes meus versos lendo
Não entenda que amor neles palpita,
Nem que saudade trágica, infinita
Por dentro dele sempre está vivendo.
Talvez que ela não fique percebendo
A paixão que me enleva e que me agita,
Como de uma alma dolorosa, aflita
Que um sentimento vai desfalecendo.
E talvez que ela ao ler-me, com piedade,
Diga, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil e carinhosa e franca:
— Ah! bem conheço o teu afeto triste...
E se em minha alma o mesmo não existe,
É que tens essa cor e é que eu sou branca!
Eternal Dream One who reads these lines perhaps does not understand the love that throbs in them, nor what tragic, infinite longing always lives in them.
Perhaps she does not perceive the passion that transports and agitates me, like a saddened soul afflicted by the death of a feeling.
And perhaps, reading, she will say, smiling with pity, a little friendship, so good, genteel, caring and open:
— Ah! I know your sad feeling very well... And if the same does not exist in my soul, it is because you are colored, and I am white!
Rosa Negra Nervosa Flor, carnívora, suprema,
Flor dos sonhos da Morte, Flor sombria,
Nos labirintos da tu’alma fria
Deixa que eu sofra, me debata e gema.
Do Dante o atroz, o tenebroso lema
Do Inferno a porta em trágica ironia,
Eu vejo, com terrível agonia,
Sobre o teu coração, torvo problema.
Flor do delírio, flor do sangue estuoso
Que explode, porejando, caudaloso,
Das volúpias da carne nos gemidos.
Rosa negra da treva, Flor do nada,
Dá-me essa boca acídula, rasgada,
Que vale mais que os corações proibidos!
Black Rose Nervous flower, carnivorous, supreme flower of Death’s dreams, shadowy Flower, in the labyrinths of your cold soul leave me to suffer, struggle against myself and groan.
In tragic irony I see Dante’s atrocious, tenebrous motto on the gates of Hell, upon your heart, horrifying predicament.
Delerium’s flower, flower of tempestuous blood that explodes, oozing copious fleshly pleasure amid groans.
Black rose of darkness, nothing’s Flower, give me that acidulous, torn mouth worth more to me than forbidden hearts!
Titãs Negros Hirtas de Dor, nos áridos desertos
Formidáveis fantasmas das Legendas,
Marcham além, sinistras e tremendas,
As caravanas, dentre os céus abertos...
Negros e nus, negros Titãs, cobertos
Das bocas vis das chagas vis e horrendas,
Marcham, caminham por estranhas sendas,
Passos vagos, sonâmbulos, incertos...
Passos incertos e os olhares tredos,
Na convulsão de trágicos segredos,
De agonias mortais, febres vorazes...
Têm o aspecto fatal das feras bravas
E o rir pungente das legiões escravas,
De dantescos e torvos Satanases!...
Black Titans Rigid with Suffering, in arid deserts, awe-inspiring ghosts of Legend march sinister and tremendous, beyond the caravans, in the open skies...
Black and naked, black Titans, vile mouths covered by two vile and horrendous wounds, march strange pathways with vague, uncertain, sleepwalking steps...
Uncertain steps and treacherous eyes, in the convulsion of tragic secrets, of mortal agonies, voracious fevers...
They have the fatal aspect of wild beasts and the pungent laughter of slave legions, of dantesque and terrible Satans!
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I’ve always loved those Penguin pocketbooks with prose “glosses” at the bottom of the page (the Latin American antho has a few beautiful things by Raworth, by the way). The old Penguin Rimbaud is still the best translation around (the Anvil Baudelaire is wonderful, too). It seems the most respectful way to go, in some cases, though I might change my mind.
First posted by Berkeley Neo-Baroque Gang of One, 3.16.2006
Under continual revision, correction and augmentation
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